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    “Inês”: realidade e ficção pelo direito ao devaneio poético

    20.09.2016

     

    “Quando eles se conheceram, eu andava escondida no meio de outras coisas. Curva de brisa, alga vermelha, briga de passarinho. Eu ainda não era uma vez”.

     

    É com esse início arrebatador (clique aqui e confira a nossa lista dos começos mais inesquecíveis da literatura infantil) que Inês, livro ilustrado de Roger Mello e Mariana Massarani, publicado em 2015 pela Companhia das Letrinhas, pega o leitor pela mão e o convida para voltar a 1355, para o epicentro de um acontecimento que só conhecemos pelos livros de História: o beija mão da rainha Inês.

     

    O título antecipa quem é a protagonista. Inês é Inês de Castro, dama de companhia da rainha Constança, esposa do príncipe de Portugal, Pedro I. Aprendemos pela História que o romance proibido entre os dois nasceu em um cenário de disputa política e poder, culminando no assassinato de Inês a mando do rei, e na conseguinte coroação da moça, que se tornou rainha mesmo depois de morta: episódio conhecido como Beija mão de Inês de Castro. É um misto tão impreciso entre realidade e ficção que surpreende que tenha se tornado livro infantil somente agora.

     

    Uma história que a um só tempo pertence ao campo do registro histórico e da poética do imaginário popular; Inês de Castro não poderia parar por aí. Tanto é que foi recontada por Camões, Bocage e muitos outros autores. O que não esperávamos é que ainda seria dada a palavra à Beatriz, filha do casal. E é isso que Roger e Mariana fazem neste livro: dão voz a um eu-lírico criança para narrar a história do ponto de vista do devaneio infantil.

     

     

    Quando Beatriz diz “eu ainda não era uma vez”, o leitor entende que vai saber de tudo desde antes de a nossa narradora nascer. Para a criança, o que vem primeiro é a identificação com o ponto de vista, a possibilidade de revisitar um capítulo da História como se esta pudesse finalmente ser tão real a ponto de acontecer com ela mesma. Para o adulto, o que fica são interrogações de surpresa: “Então isso é literatura infantil?”; “Posso falar de assassinato, traição, violência para crianças?; “Posso falar de História contando história?”.

     

    Inês ensina que é possível fazer um livro absolutamente brasileiro – na estética, na intenção e na concepção – mesmo contando algo que aconteceu em Portugal. Que é possível falar do outro para falar de nós mesmos. Afinal, mesmo narrada por uma criança, a vida de Inês de Castro ainda pertence ao campo do devaneio, em que importa menos saber o que é fato e o que é lenda, do que se deixar levar pela possibilidade de participar da História com letra maiúscula. Ser leitor deste livro é se aproximar dos cochichos dos peixes do rio Mondego, passear com olhos de criança pela Quinta das Lágrimas, acreditar que as algas vermelhas são lágrimas do sangue de Inês.

     

    A fantasia aqui não é só elemento e matéria-prima do livro, é personagem. Num certo momento, Beatriz diz que conheceu muitos dos nomes do seu pai: Pedro, O Cruel; Pedro, o Cru; Pedro isso, Pedro aquilo. Mas, para ela, era só Pedro. No livro A poética do devaneio, o filósofo Bachelard diz que “Somente pela narração dos outros é que conhecemos a nossa unidade. No fio de nossa história contada pelos outros, acabamos, ano após ano, por parecer-nos com nós mesmos. Reunimos todos os nossos seres em torno da unidade do nosso nome”. Este livro é isso: uma manifestação do devaneio poético da infância e da entrega ilimitada ao fato de que somos muitos, depende só da maneira de contar. 

     

     

     

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