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Lúcia Hiratsuka: "O movimento de abrir, olhar, folhear um livro nos conecta com uma pausa dentr


Hoje, começa em Paris a terceira edição da Primavera Literária Brasileira. Sob a batuta de Leonardo Tonus, do Departamento de Estudos Lusófonos da Universidade de Sorbonne , o festival não conta com o apoio financeiro do Governo francês ou do Brasil, tudo é feito de forma colaborativa, para apresentar a diversidade literária brasileira a estudantes de diferentes faixas etárias e espaços de ensino.


Organizado este ano também pela editora Simone Paulino, da Nós, e pela escritora Verônica Lessa, a Primavera Literária (ou, em francês, Printemps Littéraire Brésilien), escolheu alguns autores brasileiros de literatura infantil e juvenil para representar o gênero. Para a sorte dos franceses, Lúcia Hiratsuka está entre eles.


Por lá, Lúcia vai falar não só sobre seus livros, mas também da diversidade do livro ilustrado no Brasil, ao lado do ilustrador e escritor Roger Mello, além de participar de uma mesa na Universidade de Sorbonne com Paula Anacaona, e de mediar uma oficina de sumiê.Para falar do encantamento dos livros da Lúcia, não basta falar dos prêmios Jabuti, APCA, dos selos de Altamente Recomendável da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. É preciso parar e olhar. E olhar de novo e com mais calma. Algumas literaturas são como recantos, pontos de refúgio. Os livros de Lúcia são alguns desses lugares.


"Orie" (imagem ao lado), inspirado nas memórias de sua avó, é um exemplo de como seus livros podem transportar o leitor para outros mundos e possibilidades. Prestes a ir para a Primavera, que começa hoje e vai até o dia 31 de março, ela parou uns instantes para contar como vai ser esse encontro, falar sobre a potência do livro ilustrado, e do que vem por aí.



Na Primavera Literária, você vai estar ao lado de outros 29 escritores e artistas do livro. Como foi o convite e o que significa pra você representar a literatura infantil brasileira em outro país?

Em 2015 recebi um convite para participarde uma antologia de autores brasileiros na edição especial da Revista Pessoa para o Salão de Paris. A edição impressa foi em francês, a digital em português, também em inglês. E um tempo depois, conheci o curador Leonardo Tonus, da Universidade de Sorbonne, sempre empenhado em divulgar a literatura lusófona. E conversamos sobre essa 3a edição da Primavera Literária em Paris; soube que um dos propósitos é divulgar a literatura brasileira. Acho importante que tenha um espaço para a literatura infantil. Ano de homenagem acontece numa época apenas, mas a ideia desse evento é ter continuidade. Assim a nossa literatura vai encontrando o seu espaço, mesmo que devagarinho. Muitos autores estarão no Salão de Paris, outros moram por lá. No meu caso, vou juntar nessa viagem a visita à Feira do Livro Infantil de Bolonha.


O que você vai apresentar a eles, pode contar um pouco sobre a sua programação no evento?

Terei três encontros. Um deles na Universidade Sorbonne, estarei junto com a Paula Anacaona, da Editions Anacaona. Vamos apresentar o livro BANZO- mémoires de la favela (traduzido do livro Becos da memória), de Conceição Evaristo. Participei desta edição francesa com algumas ilustrações em sumiê. Na Casa da Cultura Japonesa na França, será uma mesa junto com Roger Mello. Vai depender também dos mediadores, mas acredito que falaremos um pouco sobre a diversidade dos livros ilustrados no Brasil, as nossas experiências e referências. E um dia foi reservado para o Atelier de Sumiê.


E por falar em Paris, seu último livro, "As cores dos pássaros" (2015) viajou para lá no ano passado, para o Salão do Livro. Como foi?

Ainda são poucas as chances de autores brasileiros serem publicados em outros países. A minha principal energia está voltada para as crianças do Brasil, o que for além disso também é muito bacana. É importante que as crianças tenham contato com autores de países distantes, cultura tão diferente, paisagens diversas.


Uma parte do seu trabalho se dedica a recontar mitos e lendas do Japão. É preciso "adaptar"essas histórias para as crianças desse outro mundo de cá? Em outras palavras, o que é ser uma criança que lê dentro de uma cultura que está ainda em sua infância em relação ao livro ilustrado?

Eu sempre pensei nesses contos e lendas como clássicos, pouco divulgados no Ocidente. O reconto começa pela seleção das histórias. Escolho as que me encantaram quando criança e que continuam me encantando, ou intrigando,e que trazem conflitos humanos universais. Aleitura compartilhada em casa não é ainda um hábito aqui, falando de uma forma geral. É um problema cultural. Mas hoje temos mais encontros, espaços para discutir a questão, inclusive o livro ilustrado. Isso vai fazendo alguma diferença, assim espero.


Seus livros suspendem o leitor em outro tempo - o da delicadeza, da serenidade - por isso tantos adultos se identificam, talvez por precisarem desse momento de interrupção. Você concorda? Qual é pra você a maior dificuldade em fidelizar como leitor uma criança desse mundo acelerado em que a gente vive?

O próprio movimento de abrir, olhar, folhear um livro, já nos conecta com uma pausa dentro do caos do dia a dia. Quando criança, eu lembro que queria saber o que havia além daquele espaço conhecido por mim, uma zona rural, uma cidade, o trem que ia pra longe. Até onde? E como seria o mundo? Qual o meu papel nesse mundo? Hoje, ainda quero conhecer outros lugares, outras culturas, vivências diversas, talvez sempre com questões semelhantes. Buscamos na leitura um significado para a nossa vida. Parto desse princípio e tento colocar toda a energia na história em que estou trabalhando. Se faço o melhor que posso, depois é esperar que o livro encontre o seu leitor.


Qual é a diferença pra você entre o diálogo com adultos e com a criança? Sua escrita e ilustração fazem concessões ou tudo é permitido?

Acredito que a diferença não está no tema. Quando uma criança brinca, ela está tentando apreender o que é viver, como lidar com certas situações. Com o momento, com a vida, com a morte, com as transformações. Eu busco trabalhar com a linguagem que ajuda a expressar o essencial da ideia. De início tudo é um caos. Depois, a questão central vai se revelando. Fiz concessões ou criei livremente? Não interessa mais quando eu sentir que a ideia encontrou a sua forma de se expressar.


O que está preparando para este ano? Já há um próximo livro, projetos, novidades?

Este ano, eu não vou pensar em publicar. Ainda nem divulguei direito o livro O guardião da bola (ed. Moderna), história inspirada em uma lembrança do meu pai. Mas venho fazendo experiências. Tem uma lenda que me atrai muito, de um personagem com um talento especial, mas que justo esse talento atrai uma situação de perigo. E gostaria de me planejar para escrever um texto mais longo, inspirado nas pessoas que passaram pelo sítio onde cresci.

#primaveraliterária #lúciahiratsuka #livroilustrado

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